Sem tirar nem pôr
Aquilo que é dissimulado, que não procura atenção em demasia mas provoca uma certa estranheza, que nos obriga a olhar uma segunda vez, que se desdobra apenas no mais atento dos olhares, Sem tirar nem pôr é o exercício da semelhança pela diferença. É a inversão de sentido de um objeto trivial do espaço público, repensado para hospedar um conjunto de palavras, numa estranha relação de parentesco com a poesia - experimental e matérica. É a descontextualização pela espacialização de um código que brinca com a visualidade da palavra e seu respetivo significado(s).
Na gênese deste projeto estão os pequenos exercícios que foram sendo realizados em período de confinamento, ressurgiu com eles o interesse pela palavra e sua dimensão espacial e principalmente pelo código como simbolo que permite interpretar , transmitir uma mensagem, representar uma informação ou texto*.
*"codigo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/codigo
Vou descobrindo que a palavra é um elemento inserido tanto no espaço como no tempo. Estas são em simultâneo impermanentes e insubstanciais.
O código consegue aqui esconder e mostrar,consegue subverter a função inicial e traze-lo para o campo das artes plásticas.
Procurei processos que, sendo compatíveis com o confinamento, me deixaram explorar estas ideias divergentes.

excerto dos poemas encontrados:
"poemas" são evidentes,
desprezam os estados de alma,
são clinicas frequentemente contrariam um défice de emoções.
Corpo, é pouco ou nada
é qualquer ideia de criação.
O seu aspeto instável é recorrente
é fugidio
um sonho leve.

Ensaio sobre poema "Cantico Negro" do autor José Regio
Fui encontrando em autores como Joaquim Rodrigo a beleza do simbolo, e experimentando no universo do têxtil com as bandeiras como objeto/ponto de partida.

SINALIZAÇÃO NÁUTICA . Código Internacional Bandeiras

"O Complementarismo em Pintura
Contribuição para a ciência da arte"
de Joaquim Rodrigo
(editor: Livros Horizonte )

Trabalho do artista Miguel Leal:
Une petite révolution cataléptique (bandeiras/flags), 2002
7 bandeiras em pano, cosidas e bordadas à mão.
Aprox. 120×90 cm cada.Edição de 3.
Disponivel em:
http://ml.virose.pt/une-petite-revolution-cataleptique-bandeirasflags-2002/

O trabalho do artista e professor da FBAUP Miguel Leal intitulado Histórias Catalépticas / Cataleptic Stories, foi uma grande referencia visual no que toca à criação livre e espontânea de bandeiras que fogem à imposição de um caráter utilitário e gerou um novo olhar sobre a disposição das mesmas no espaço público, estarão estas ao serviço de uma mera função decorativa ou com um significado politico? Nas palavras de Francis Alÿs ás vezes fazer algo poético torna-se político e às vezes fazer algo político pode tornar-se poético


Exemplos de estudo de composição/cor e procura de formas arbitrarias.


Bandeira elaborada com o recurso ao código angular onde podemos ler:
PROCURA
SE R
NTI
Em desenvolvimentos posteriores passei da exploração têxtil para o código aplicado ao papel com textos que posteriormente foram enviados em carta, como pequenos exercícios de desprendimento matérico e de disseminação da ideia do projeto.


Já numa fase de retorno ao trabalho presencial passei sim para os moldes iniciais com base nas tampas de saneamento, nas quais foi inserida a palavra como elemento poético.









Registos do processo de montagem
Exposição coletiva Lume Brando, na Fábrica de Santo Thyrso
10-11 Julho 2021









Joana Carvalho
Sem tirar nem pôr
Silicone, serapilheira, pigmento, limalhas.
69cm/18cm
(elementos dispersos no espaço)
2021